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Pedagogo, ator, diretor, iluminador, dramaturgo, ex-professor e coordenador do Teatro-Escola Macunaíma, esse é Will Damas. O ator é formado em Psicodrama pela Role-Playing e hoje é preparador da Oficina de Atores de São Paulo, além de coordenador dos professores da Oficina. Fundou o Engenho Teatral e o Grupo Clariô de Teatro. Também é membro da Sociedade Lítero-Dramática Gastão Tojeiro, do Grupo “A Palavra e o Gesto”, da Ing Ong. Idealizador e coordenador do Projeto Viajante Solidário, orientador do Projeto Ademar Guerra.
 

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Will Damas narra ao QUEBRE A PERNA suas experiências profissionais

Atua em cinema, teatro, TV e já produziu inúmeras peças. Personagem consagrado no mundo das artes cênicas, Wilson Damas Prodóssimo narra sua experiência ao QUEBRE A PERNA.
 

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QP Começou nos palcos quando, onde e por qual motivo? O que te levou ao mundo teatral?


Will – Comecei a atuar no teatro em 1965, eu já fazia televisão e não conhecia o teatro. Foi quando o Canarinho me levou para assistir uma peça infantil, no Teatro Infantil Monteiro Lobato (TIMOL). Após assistir o espetáculo, falei para o Canarinho: “Quero fazer isso aí!”. E ele me disse: “Não é assim, eu quero fazer.” Na época eu era todo metido a besta, pois já era da televisão e me achava o máximo.
Então fui conversar com o diretor, que era o Iaco Miller, disse que gostaria de atuar no teatro, e ele pediu para eu ficar trabalhando com eles durante um ano, e que se eu pegasse o “esquema”, atuaria em uma peça.

 

Fiquei aproximadamente oito meses acompanhando o trabalho dele, os laboratórios, as montagens das peças. E louquinho pra ser escolhido, mas ele me deixava de lado, me fez operar a luz, som, produção, ir atrás de figurino. Até que fui chamado para subir aos palcos, interpretando o Visconde de Sabugosa, a peça era “O Reino de Narizinho”, ficamos numa longa temporada de três meses.

 

Foi acontecendo deu começar a faltar muito na Record por conta das apresentações, embora teatro não desse muito dinheiro, essa não era sua preocupação. Por isso, fui me afastando da TV aos poucos. O começo da minha carreira foi bem dividido entre dança e teatro.
Quando dei por mim já estava apaixonado pelo teatro. Eu nunca tinha ido e falava que não gostava, quando assisti, vi aquela coisa e falei: “Caramba precisa de mais do que isso que eu sei para fazer teatro.” Essa dificuldade que me encantou, me instigou, esse retorno imediato do público. Esse corpo a corpo com as pessoas, que me fascinou.

 

QP- Quais as mudanças que ocorrem neste segmento desde quando começou até os dias atuais? As dificuldades diminuíram ou aumentaram? Por quê?

 

 

 

Will- Agora está mais difícil produzir, pois nós estamos à mercê de verba pública. Não que antes produzir fosse mais barato, mas diferente dos dias atuais, se nós produzíamos uma peça de sucesso, a bilheteria nos pagava e nos auxiliava a construir e produzir a seguinte.

 

 

Atualmente a bilheteria não paga nem o espetáculo, por mais que você fique em cartaz diariamente, ela não paga a produção da peça, por isso, ficamos tão dependentes de editais e verbas governamentais.

 

QP- Por qual motivo o teatro perdeu público? Qual modalidade de teatro que faz mais sucesso?

 

 

 

QP- Como enxerga a cultura no Brasil hoje? O governo concede a assistência necessária?

 

 

 

Will-  A maioria dos problemas é culpa da nossa educação, não com o teatro. Quando se tira a aula de filosofia da grade horária nas escolas; E você diz para o “cara” que ele não precisa estudar, pois vai passar de ano, você quer o que? As pessoas deixaram de estudar, de se compreender, e principalmente de almejar conhecimento. Então isso faz com que a inteligência do público fique menor, e a exigência por bons espetáculos também, eles começam a responder a essa menoridade intelectual.

Chegou um período em minha vida que vi amigos meus falando, vamos montar uma comédia, mas para rir, uma que não fale nada. E isso foi evoluindo de tal forma, até começar essas comédias Stand Up, que o “cara” falando nada, contando uma história e que não diz nada. Eu não sou contra isso, mas eu sou contra SÓ ISSO.

 

 

 

QP- Prefere atuar em cinema, teatro ou TV? Por quê? Existe diferença para encenar em cada um deles?

 

 

 

Will-  Você vai achar essa resposta muito pessoal, cada um vai te dizer uma coisa. Mas no meu caso, televisão não me encanta mais, já me encantou quando eu era jovem, metido a besta, hoje não.

Eu acho a televisão uma coisa muito fácil de fazer, pois você é um obediente, você não tem autoridade, nem propriedade de falar do jeito que você quer. No teatro você se prepara meses, e as vezes, até anos para compor um personagem.
Atualmente a coisa está um pouco mais veloz, o pessoal ensaia dois ou três meses, mas eu não concordo, não acho que é próprio, acho que um bom trabalho leva tempo para compor-se.
No teatro aquele trabalho é seu, você está falando o que você pensa do mundo. Ninguém esta falando diga isso, diga aquilo. Na televisão a interpretação é um pouco jogada fora, você não tem liberdade, essa facilidade e desprezo com a interpretação que é diferente. Você é um boneco, esta a serviço de alguém, no cinema a margem é a mesma, apenas as linguagens, tempo e ritmo que são diferentes.
Televisão não me encanta mais, a interpretação teatral me cativa pelo desafio e a complexidade.

 

 

 

QP- Como solucionar a falta de divulgação das peças de teatro entre os veículos de comunicação? Existe falta de interesse dos mesmos?

 

 

 

Will- Divulgar o teatro entre os veículos de comunicação sempre foi difícil, mas a diferença é que hoje está ainda mais caro.



Naquela época não tinha divulgação mais certeira do que o boca a boca, essa era a melhor divulgação de teatro. Colocávamos apenas um ou dois tijolinhos dos espetáculos no jornal (pois era caro também), mas o boca a boca que resolvia.


Um amigo assistia a uma peça, me indicava, e um ligava para o outro, sendo o melhor modo de divulgação. E o espetáculo de qualidade ficava uma grande temporada em cartaz.



Hoje não se vê em cartaz mais de um ou dois meses, no passado ficavam até cinco anos em cartaz.
Hoje o boca a boca, até funciona, mas em nível menor.


Acredito que o problema não sejam os jornalistas, mas sim os grupos, os veículos, os patrões, os donos dos grupos não. Para anunciar num pequeno espaço do jornal, custa em média de R$ 75 a 80 mil reias, e a produção da peça fica, às vezes, entre R$ 30 mil reais, isso acaba que a divulgação saí mais caro do que a própria produção do espetáculo.

 

 

 

Will- Perdemos público, sim, mas o problema não é apenas esse, os grupos teatrais se dividiram muito. Tínhamos na década de 60,70 e 80, cerca de 50 teatros em São Paulo, hoje temos 600 só no centro de São Paulo. Se contar a periferia são quase 800, espaços onde acontecem apresentações de teatro, não são teatros, mas foram assimilados como teatros. Então você tem uma diversidade de espetáculo que divide o público, além de ter diminuído muito por conta da televisão e cinema que ganharam público.



O segundo motivo deste problema é a queda na qualidade das peças de teatro. Denominamos de “Teatro para comer pizza depois”. Você assiste e da risada, não te acrescenta nada, come pizza e vai embora pra casa.


Por isso, acho que perdemos público fundamentalmente pela qualidade. As peças que fazem mais sucesso hoje em dia, exceto tragédia é qualquer uma, que não diga absolutamente nada.

 

 

 

QP- O que lhe dá mais prazer, produzir ou atuar?

 

 

 

Will- Felizmente ou infelizmente, não éramos para ser produtores, mas somos obrigados, afinal se não produzirmos nossas peças, ninguém mais quer produzir. Somos obrigados a nos tornar produtores, se quiser continuar fazendo teatro, embora isso acabe sobrecarregando em trabalho, e claro em dinheiro principalmente.

 

 

 

QP- Qual sua fonte de renda para produzir os espetáculos? Através de patrocínio? Os editais bancam todos os gastos?

 

 

 

Will - Você garante apenas a SOBREVIVÊNCIA de uma peça, dependendo dos editais. Sorte a nossa que o brasileiro é muito criativo, e com isso, não precisamos necessariamente de muito dinheiro para produzir ótimos espetáculos. Os envolvidos geralmente montam o cenário, com pertences velhos de casa, o figurino é coletado com a própria equipe, cada um vai trazendo uma coisa, e nós conseguimos chegar ao resultado desejado. Mas apesar disso a bilheteria não vai manter o espetáculo, e por isso, começamos a correr atrás de editais.



Patrocinadores não existem mais, você tem grandes bancos patrocinando espetáculos que vem de fora, musicais com atores globais do contrário é bem difícil


No Rio de Janeiro parece que as coisas estão mudando, hoje em dia você até consegue pessoas físicas para ajudar, mas grandes empresas patrocinam outras coisas.
O que acontece muito é a migração dos paulistas para o Rio de Janeiro, pois lá estão os atores globais, que acabam sendo mais valorizados.

 

 

 

QP- Quantas peças de teatro já produziu? E qual foi a mais prazerosa de fazer?

 

 

 

Will- Só pelo fato de ter conseguido produzir, garanto que todas me deram muito prazer. Mas sozinho produzi quatro peças, agora em grupo mais de 100.



Por incrível que pareça, a peça que produzi e foi premiada, foi a que mais perdi dinheiro, em 1974, mais ou menos. A partir desse momento decidi parar de produzir sozinho, pois as anteriores que havia produzido consegui bancar o espetáculo e ainda sobrou um dinheiro, e a que ganhei um prêmio, perdi dinheiro, engraçado não!?

 

 

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